Lançado em 2022 e dirigido por Viviane Ferreira, Ó Paí, Ó 2 marca o retorno de Lázaro Ramos como Roque, no Pelourinho, 15 anos após o sucesso do primeiro filme. Desta vez, a narrativa expande e aprofunda as questões culturais e sociais de Salvador, com uma trama que vai além do entretenimento e assume um papel crítico e afrorreferenciado, refletindo o cotidiano e os desafios da comunidade negra no Brasil. A continuação traz novas camadas à história dos personagens e do Bando de Teatro Olodum, enquanto tenta dialogar com o público atual por meio de temas como tecnologia, gentrificação e tradição.
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A trama de Ó Paí, Ó 2: Uma luta pela preservação cultural
Em Ó Paí, Ó 2, Roque segue perseguindo seu sonho musical e grava uma canção que acredita ter potencial para ser o hit do verão. No entanto, sua vida é interrompida pela notícia de que Neuzão, proprietária do icônico bar frequentado pelos moradores do cortiço, perdeu o ponto de encontro cultural para um comerciante coreano devido a dívidas acumuladas. Essa situação se torna o motor da trama, unindo Roque, Yolanda, Reginaldo, Maria, Mãe Raimunda e outros moradores em uma missão: arrecadar o dinheiro necessário para reverter a venda do bar. Como forma de resistir, eles organizam uma celebração para Iemanjá, uma expressão de fé e esperança para a comunidade, que vê no evento uma chance de manter vivo um dos poucos espaços que ainda lhes pertencem.
Paralelamente, a personagem Dona Joana, marcada pela dor da perda dos filhos, agora ocupa seu tempo acolhendo jovens em situação de rua, que encontra nas ruas do Pelourinho. A trama explora o luto, o acolhimento e a força das relações comunitárias, tornando-se um pano de fundo essencial para o debate sobre união e resistência na sociedade.
O impacto do boicote e a resposta de Lázaro Ramos
O lançamento de Ó Paí, Ó 2 foi cercado por uma tentativa de boicote promovida por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro. A hashtag #BoicoteLazaroRamos circulou nas redes sociais devido ao apoio explícito de Lázaro Ramos à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva. No entanto, o boicote não só falhou em desestimular o público, como acabou gerando maior publicidade para o filme. Lázaro respondeu ao boicote lembrando que a obra pertence ao Bando de Teatro Olodum, um grupo histórico com 34 anos de existência, comprometido com a valorização da cultura negra. A resposta foi imediata: sessões esgotadas e uma recepção calorosa em Salvador, provando o quanto o público estava ansioso para ver essa história no cinema.
A crítica de Ó Paí, Ó 2: Entre nostalgia e modernidade
A continuação de Ó Paí, Ó carrega um tom mais maduro e melancólico em comparação ao primeiro filme, que abordava a efervescência do Carnaval baiano de forma leve e divertida. Agora, a história lida com questões mais sérias e atuais, como o avanço da gentrificação, as dificuldades econômicas pós-pandêmicas e o sincretismo religioso. Com o roteiro assinado por Viviane Ferreira, Daniel Arcades, Elísio Lopes Jr., e Igor Verde, o filme busca construir um “metaverso preto”, onde a resistência cultural e a preservação da identidade afro-brasileira estão no centro das atenções. A abordagem afrocentrada traz discussões inspiradas em grandes pensadores e artistas negros, como Conceição Evaristo e Marvin Gaye, refletindo a identidade e a ancestralidade da Bahia.
Entretanto, ao tentar abraçar muitos temas ao mesmo tempo, o filme perde um pouco o foco em sua narrativa central, tornando-se uma série de “mini-crônicas” da vida no Pelourinho. Enquanto a questão da perda do bar é o conflito principal, outras subtramas – como o luto de Joana e o relacionamento de Roque com seu filho – acabam sendo tratadas de forma breve, diluindo o impacto de algumas cenas.
O final de Ó Paí, Ó 2: Uma mensagem de resistência e comunidade
O desfecho de Ó Paí, Ó 2 é marcado pelo evento em homenagem a Iemanjá, uma celebração que simboliza a união e a resistência da comunidade. Com uma energia que remete ao axé e à coletividade, a cena final emociona ao trazer de volta a vibração e a espiritualidade que conectam os personagens e o público. A luta pelo bar de Neuzão representa uma luta maior: a resistência da comunidade negra diante das forças que tentam apagar ou substituir suas tradições e espaços. Embora o filme não dê respostas definitivas a todos os problemas apresentados, ele deixa uma mensagem clara sobre a importância da união para enfrentar as adversidades.
Nossa crítica: A potência de uma obra culturalmente relevante
Ó Paí, Ó 2 é um filme que abraça a complexidade e a riqueza da cultura afro-brasileira. Ele consegue, através de uma mistura de comédia, drama e crítica social, provocar reflexão e emocionar o espectador. A autenticidade do elenco, especialmente na atuação de Lázaro Ramos e Tânia Tôko, traz uma veracidade que encanta. Contudo, o excesso de temas e a estrutura fragmentada podem dificultar a compreensão e o envolvimento do público com a trama. A direção de Viviane Ferreira é cuidadosa e respeitosa, porém, o filme talvez se beneficiasse de um roteiro mais enxuto para focar nos aspectos centrais.
Apesar de suas limitações narrativas, Ó Paí, Ó 2 é um presente cultural. Ele reafirma a importância da coletividade e do aquilombamento como formas de resistência e sobrevivência, convidando o público a celebrar e refletir sobre a cultura afro-brasileira. O filme não é apenas uma sequência de entretenimento, mas uma afirmação da identidade e do poder da união. Para quem busca uma obra que transcende o cinema, Ó Paí, Ó 2 é um axé cinematográfico que vale a pena assistir.
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